terça-feira, 7 de janeiro de 2014

As chuvas de verão




O fato de faltar luz durante um temporal de verão pode ser muito interessante. Enquanto instintivamente a maioria das pessoas vocifera com a falta de energia elétrica e reclama do atraso nos afazeres que isso irá proporcionar, eu prefiro ver o lado bom disso tudo. 

Em dias e condições normais cada um da família estaria ocupado com as suas coisas. O pai em frente a Televisão, a mãe arrumando alguma coisa da casa e eu no computador.

Hoje ao chegar em casa depois do trabalho, encontrei os dois sentados no sofá, conversando à luz fraca de uma lanterna velha.  Pude contar sobre como foi o meu desgastante dia, ouvir suas histórias e acontecimentos dos seus cotidianos.

A conversa saiu da sala, foi para a cozinha, durante a refeição da noite o papo se estendeu e falamos muito sobre tudo durante horas. O mais impressionante, é que cenas e acontecimentos como esse, são cada vez mais raros dentro de nosso cotidiano corrido e ocupado principalmente pelas ferramentas digitais.

Quando paro pra pensar como era a minha vida antes de ter computador, internet, ou seja, pré 2006, percebo que vários hábitos foram deixados de lado. Eu gostava e tinha o costume de ir à noite à casa de meus amigos, aqui do bairro. Quase todo o dia, escolhia uma casa diferente para ir bater um papo, sair de casa, dar uma volta, parar na esquina e observar um pouco da rua.

Eu gostava de nos finais de semana visitar meus primos, também andava muito de bicicleta, era o meu veículo de transporte.

Hábitos simples como estes se tornaram raros depois que eu descobri que poderia fazer “quase tudo isso” de uma forma diferente, sem mover a bunda da cadeira. O MSN aproximava os amigos, possibilitava falar com eles sem sair de casa, o Orkut, permitia que eu achasse alguns amigos sumidos e, até pudesse saber como eles andavam aparentemente. Além disso, eram grandes facilitadores de paquera, e isso ajudava muito.  

Depois de ter vivido um dia como hoje, onde pude presenciar o que existe de mais dolorido e frágil na vida de um ser humano, fiquei pensando muito sobre as pequenas coisas do dia a dia, aquilo que nos aproxima e tece os laços de afeto e carinho que levamos para o resto de nossas vidas. E ao final de tudo, na hora da perda, o que realmente fica, são as lembranças do passado.

As tecnologias da informação proporcionam um afastamento dos laços familiares, ao mesmo tempo em que aproximam quem se encontra distante. Mas ao parar para refletir, depois de tudo, nessa noite chuvosa de verão, percebo o quanto é importante e necessário “desligarmos a luz” pelo menos uma vez ao dia e vivenciarmos um pouco mais de vida humana.

As chuvas de verão sempre foram uma coisa interessante na minha vida. Quando criança elas me remetiam ao inverno (minha estação preferida). A baixa na temperatura, logo trazia a lembrança e a vontade de fazer coisas que costumava fazer nas épocas de frio. Ficar em casa, tomar café passado, ver um filme, brincar com jogos, ou quem sabe até pedir pra mãe fazer um bolo. Hoje, elas me fazem pensar sobre a vida!