A matéria
publicada pelo portal eletrônico de notícia o Globo em 22/12/12 retrata um
pouco da dura realidade enfrentada pelos profissionais da área das ciências
humanas. Há alguns anos convive-se com baixíssimos investimentos nos cursos
acadêmicos, bibliotecas defasadas e um inflado e desestimulado mercado de
trabalho.
Evidentemente
existem muitos projetos toscos que não tem relevância nenhuma dentro da
sociedade, e do mundo acadêmico. Estudos que já nascem fadados ao fracasso e esquecimento, do tipo: A influência das alfaces da Renânia na dieta dos Francos. Na grande maioria das vezes só estão ali abocanhando
uma pequena verba de dinheiro público, lutando pela manutenção da espécie,o que contribuiu na renda do professor que coordena a pesquisa e também subsidia os estudos dos alunos.
Estes projetos uma vez concluídos, são apresentados em algum congresso (na grande maioria das vezes internos) e depois ficam esquecidos por anos, décadas ou até mesmo na eternidade. Seus lugares de destino normalmente são alguma prateleira velha de biblioteca, ou centro de documentação.
Estes projetos uma vez concluídos, são apresentados em algum congresso (na grande maioria das vezes internos) e depois ficam esquecidos por anos, décadas ou até mesmo na eternidade. Seus lugares de destino normalmente são alguma prateleira velha de biblioteca, ou centro de documentação.
Entretanto,
estes projetos servem como iniciação científica, são a porta de entrada para
estudantes de graduação no universo da pesquisa acadêmica. Ao invés de cortar
tudo de vez, como o governo está fazendo, seria interessante que as propostas de pesquisa e custeio de estudos fossem analisadas com maior rigor. Mas, como a bola
da vez é o desenvolvimento tecnológico injetam-se grandes fortunas nessa área e
que se exploda esse bando de gente chata das ciências humanas.
As consequências
a curto médio e longo prazo (como diz a reportagem) que estes investimentos na educação tecnológica
terão dentro da sociedade, só poderão ser medidas e avaliadas exatamente por meio dos
desprestigiados cursos das humanas.
A
realidade se apresenta contraditória. Ao mesmo tempo em que o governo corta os
investimentos para os estudos das humanidades, estes cursos têm um crescimento significativo
no número de matrículas em virtude do Enem.
Um
amontoado número de alunos
frustrados (que não conseguiram ingressar no curso pretendido da faculdade,
mas, através do Enem conseguiram a vaga
em qualquer outro curso universitário. Normalmente neste caso, as ciências humanas acabam como uma tábua de salvação) ingressam, e se formam todos os anos, aumentando a quantidade de profissionais no mercado.
Quantidade essa, que no Brasil, nunca significou e está longe de significar
qualidade.
Por outro
lado, os investimentos nas áreas tecnológicas apresentam também os seus pontos fracos.
Muitos cursos de graduação são extremamente difíceis de serem concluídos, como por exemplo as
engenharias. O fato é: Os alunos que conseguem obter o ingresso
nesses requisitados cursos, enfrentam muitas dificuldades, em virtude do elevado grau de exigência e cobrança, levando-os a optarem pela desistência. Tá, mas o que isso significa? Significa que o governo está
investindo e não está tendo o retorno desejado.
Em
outubro do ano passado tive a oportunidade de visitar o pólo universitário de
Santo Antônio da Patrulha, lá se concentram cursos de engenharia química e de
alimentos da Furg, assim como vários outros cursos da Ufpel, IFsul e Furg na
modalidade a distância da UAB.
O pólo é
pequeno, fica localizado num prédio que pertenceu a uma escola no passado, mas ao
lado, foi construído um pavilhão de dois andares no estilo dos modernos prédios
da Furg. Tá, e o queco? Onde quero chegar com isso?
Quero
dizer que a percepção que tive foi completamente avessa ao o que eu imaginava
por um pólo universitário. Pouquíssimos alunos, transitando pelo campus, e a
sensação de que estava em uma escola em época de recuperação no final de ano.
Intrigado com a situação perguntei ao guarda se era sempre assim e obtive a
seguinte resposta: No início do ano isso aqui era cheio, veio um monte de gente
de fora, mas aí os alunos vão vendo que os cursos são muito difíceis, vão
rodando e vão desistindo, muitos tem que pagar aluguel né?
Então
chegamos no ponto crucial da questão. Para que este pólo fosse montado em uma
cidade a poucos quilômetros da capital gaúcha, muito dinheiro do Governo
Federal precisou ser investido na construção do campus, contratação de
professores e manutenção deste entre outras coisas.
Cada
aluno tem um valor imenso dentro do orçamento universitário. No IFSul Pelotas,
instituição o qual estou vinculado como aluno e professor tutor, estima-se a
cifra no valor de 20.000 reais ao ano. Ou seja, cada vez que um discente
desiste de um curso, este orçamento é perdido, porque não dará o retorno
investido pelo governo.
Então,
até que ponto a criação de pólos universitários voltados para as demandas da
região é positivo, sendo que muitos alunos são de fora e ao se formarem
regressarão para as suas localidades, e a outra parcela da região não consegue
concluir os estudos? Por outro lado, instituições e cursos de tradição, na
grande maioria das vezes têm orçamentos restritos, em virtude da política de
governo em investir na área tecnológica.
No campo das humanas, hoje o que se têm é uma dura, cruel e deprimente realidade para
todos que almejam uma carreira acadêmica, onde somos obrigados a estudar por
mais de 20 anos, obter o doutorado e entrar na fila dos concursos públicos com
editais rigorosamente elaborados/moldados para a tender o currículo do
fulaninho de tal. Fazer o que se o governo quer assim?
Como diz a célebre pensadora da cidade de Rio
Grande Lú Compiani: Tá ruim te muda!, Neste caso, muda de área meu
filho.
Segue o link da notícia: http://oglobo.globo.com/educacao/ciencias-humanas-sem-vez-7121547
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