quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A liberdade de Alex



Alex é um sujeito de estatura baixa, barbas e cabelos longos. Vive em uma barraca de lona no campo alagado que cerca a rodoviária de Pelotas. Sempre com o seu tradicional boné escuro e suas roupas sujas, ele tenta descolar alguns trocados dos viajantes oferecendo em troca alguma arte esculpida em fio de bronze.

Nunca, comprei nada de Alex, nunca vi o seu potencial artístico. Não que eu o despreze como artesão, mas prefiro poupar o seu escasso arame. Sempre contribuo com o que eu posso, e em troca da arte, prefiro bater um papo com aquele sujeito instigante.

Entre vários papos rápidos que trocamos na rodoviária, hoje Alex me surpreendeu.

E aí Alex? Como tá a vida?
Pra mim tá sempre boa, ela nunca está ruim.
Eu prefiro ver sempre as coisas boas. Eu tenho saúde, sou imune, nunca fiquei doente. E tenho liberdade, é o que mais importa. Não devo nada a ninguém.
Eu vou viver muito, vou viver até os 200 anos, tipo aqueles velhinhos chineses.
Sabe por quê? Porque eu acredito nisso, já ouviu falar disso? A vida é o reflexo das coisas que tu acredita. Tipo aquele livro O Segredo, tá ligado?
E tu?
Eu vou viver pouco. 

Mas por quê? Tu acreditas nisso?


Não. Porque eu não gostaria de viver muito sem saúde.
Mas tu és doente? Tu acreditas mesmo nisso?

Fiquei sem respostas!
Alex ainda emenda a sua fala:

Os egípicios, eram uma das primeiras civilizações do mundo, construíram as pirâmides. Sabe como? Porque eles acreditavam que era possível. E as pirâmides vão durar até o fim da humanidade.

Neste momento Alex vira as costas e saí caminhando. Deixando-me a pensar nas suas sábias palavras.

Alex tem liberdade, e isso é a sua maior glória, talvez a razão principal que o levou a adotar esse estilo de vida.

Alex é livre, não deve nada a ninguém e, acredita que é imune a qualquer doença.

Qualquer pessoa em condições normais de vida ficaria doente ao dormir uma noite sequer, em uma barraca de lona no meio de um matagal úmido. Alex não. (Outro dia, me comentava que havia perdido todos os seus pertences, pois em uma noite fria desse inverno pelotense foi tentar se aquecer e a barraca pegou fogo).

Enquanto dizia que as pirâmides iriam durar para a eternidade, Alex me deixou a pensar em o quanto ele está coberto de razão, em dizer que é livre, e que transforma as coisas ruins em boas.



Enchemos os pulmões de ar e a boca de orgulho para dizer: Eu sou livre!

Livre para o que? Para fazer o que nos dá vontade? Livre para não ir trabalhar no dia em que não estamos bem? Livre para escolher o melhor emprego? Livre para comprar, consumir, se divertir? Livre de regras sociais e normas de convivência? Livres para escolher a vida que queremos levar e mudar quantas vezes for possível? Livre para postar na rede social o que quiser?

Alex não tem prenda pra pagar, horário para levantar, patrão para lhe mandar. Vive de acordo com as suas regras sociais em um mundo, que pra ele é bom.

Sim, eu invejo e tenho muita admiração das pessoas que conseguem se abster desse mundo cão e viver no melhor estilo foda-se o Capitalismo.

Que a vida dê muita saúde e imunidade para o querido e sábio Alex.

PS:
Este texto eu dedico a amiga Daniela de Bem que no dia de hoje teve a sua conta no facebook excluída em virtude de uma reportagem investigativa que ela fez.
Que a vida e as palavras de Alex nos sirvam de exemplo. 

Estamos mais que juntos amigos blogueiros. 


Um comentário:

  1. Muito bom texto, faz com que a gente reflita se somos realmente livres, ou se somos marionetes de um sistema.

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