Neste final de semana as duas cidades do extremo sul do Rio
Grande do Sul, respiraram cultura.
Em Pelotas, ocorreu a virada cultural com shows de diversos
artistas, incluindo o nativo e mais expressivo artista local Vitor Ramil. O evento
aconteceu concomitante com a feira do livro no centro histórico de Pelotas.
Rio Grande, recebeu o maior encontro de grafite do mundo o “Meeting of Styles” . Os muros da SAC
foram cobertos da mais pura arte urbana, o evento também foi gratuito e contou com o apoio da Prefeitura Municipal.
Grafite nos muros da SAC Foto retirada do perfil oficial do prefeito de Rio Grande Alexandre Lindenmeyer |
No meio de um cenário político, econômico obscuro que
estamos atravessando, cabe aqui destacar as duas iniciativas dos governos
municipais. Ambas as prefeituras estão nas mãos dos dois partidos mais
dominantes da política nacional, PSDB e PT. Embora, tenhamos duas visões
distintas de projetos políticos, é possível encontrar um fio condutor
semelhante entre elas neste momento, a cultura ganha um espaço no qual antes
não tinha, a democratização.
Rio Grande parece seguir o exemplo que vem dando certo da
vizinha ao lado, a valorização do patrimônio histórico e a exploração dos
espaços públicos da cidade. Neste ano,
organizou a Festa do Mar no centro histórico, aberta ao público, com preços
acessíveis, com o seu principal produto, a anchova sendo comprada de uma
cooperativa de pescadores e sendo vendida a preço acessível.
Os resultados da Festa do Mar foram surpreendentes, a
população não estava acostumada a curtir eventos públicos, a caminhar pela
cidade na noite, a contemplar as convidativas fachadas dos prédios históricos
iluminados. Os leões marinhos, ainda estão pelos espaços públicos, enfeitando e
sendo atrações turísticas.
O passe livre no domingo de festa também foi outro diferencial, pois não basta
só criar uma festa popular ao ar livre, se tu não crias também os meios para as
pessoas de baixa renda acessarem estes locais. Mais um ponto para a Prefeitura
de Rio Grande.
Depois de anos, ofertando uma Festa do Mar seletiva, onde as
ruas eram fechadas e até mesmo cobravam-se estacionamentos nestas, a lógica
parece ter se invertido, e para o desgosto de muita gente, deu certo.
A praça Tamandaré, também tem recebido alguns eventos nos
sábados a tarde, encontros de músicos riograndinos tem ocupado o espaço e dado
um resultado bem bacana, ao exemplo do que já vem fazendo há muitos anos
Serginho da Vassoura de Pelotas. Inclusive, ele e sua trupe estiveram aqui na Praça
Tamandaré fazendo um som com seus instrumentos improvisados.
Atitudes como essas são dignas de aplausos. Vivendo em uma
era onde a "camarotização" prevalece, onde os indivíduos gastam o que tem e o que
não tem para serem Vips, onde os espaços são devidamente marcados e exclusivos,
precisamos sim de uma retomada da coisa pública. Afinal de contas, o
capitalismo transformou a arte em espetáculo pago, consequentemente caro e
sendo assim, inacessível a uma grande parte da nossa sociedade, que por
consequência, se tornou mais triste, mais chata, menos crítica e alienada aos
meios de comunicação.
A arte é expressão divina, e a manifestação do gênio humano.
O inconsciente produz e o consciente lê
os resultados, já diziam isso os filósofos alemães do século XIX, conhecidos no
mundo por encabeçaram um movimento intelectual que tinha por finalidade
revolucionar as estruturas do mundo moderno através de uma nova concepção de
leitura da arte, o Romantismo alemão.
O que chama atenção dentro de tudo isso, é justamente o fato de que o
romantismo alemão ganha forças e formas justamente no momento em que a Alemanha
passava por muitas dificuldades de cunho social.
A expansão do Capital concentrado nas mãos de uma seleta
burguesia, contribuiu para o empobrecimento de grande parte da população o qual
passou a depender quase que exclusivamente da venda de sua mão de obra, em
outras palavras, crescimento de um proletariado urbano vivendo em condições
precárias.
A Alemanha da época, que ainda não era Alemanha e sim um
conglomerado de 36 Estados encabeçados pela Prússia, sofria com as
consequências das Revoluções Burguesas nos países vizinhos e lutava para
encontrar um elemento o qual os dessem condições de mais tarde servir como
instrumento de luta na construção de uma identidade nacional. Vivendo neste
ínterim, os românticos encontram na produção estética dos artistas um elemento
capaz de revolucionar.
Rio Grande ainda está muito aquém do esperado no campo cultural,
principalmente no quesito espaços de arte, locais onde os artistas possam
manifestar e expor as suas artes. Mas, uma série de sinais tem sido dado e
também cabe aos artistas e a comunidade pressionar os setores públicos por
mais visibilidade.
Em épocas de crise financeiras a arte se apresenta como um elemento amenizador,
um instrumento capaz de dotar o ser humano com aquilo que ele tem de mais
importante que é o exercício de seu intelecto. Portanto, não vamos esperar a
crise bater para fazer e viver a arte, mas já dizia Moisés Mendes que a arte é
de esquerda, uma vez que ela tem que ser crítica e não pode ser acomodada, não
existe genialidade criativa no acomodamento. Teatro Mágico em certa música,
diz: A Felicidade bestializa, o sofrimento humaniza.
Ocupar a cidade, viver os seus espaços ainda continua sendo a melhor rede social!
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2015/08/moises-mendes-esgotou-se-o-repertorio-de-lobao-4818837.html
Sobre a virada cultural de Pelotas:
http://www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&id_noticia=MTA1OTA3&id_area=MA==
http://www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&id_noticia=MTA1OTA3&id_area=MA==
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