segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A arte na crise ou a crise na arte?

Neste final de semana as duas cidades do extremo sul do Rio Grande do Sul, respiraram cultura.
Em Pelotas, ocorreu a virada cultural com shows de diversos artistas, incluindo o nativo e mais expressivo artista local Vitor Ramil. O evento aconteceu concomitante com a feira do livro no centro histórico de Pelotas.  

Rio Grande, recebeu o maior encontro de grafite do mundo o “Meeting of Styles” . Os muros da SAC foram cobertos da mais pura arte urbana, o evento também foi gratuito  e contou com o apoio da Prefeitura Municipal.

Grafite nos muros da SAC
Foto retirada do perfil oficial do prefeito de Rio Grande Alexandre Lindenmeyer

No meio de um cenário político, econômico obscuro que estamos atravessando, cabe aqui destacar as duas iniciativas dos governos municipais. Ambas as prefeituras estão nas mãos dos dois partidos mais dominantes da política nacional, PSDB e PT. Embora, tenhamos duas visões distintas de projetos políticos, é possível encontrar um fio condutor semelhante entre elas neste momento, a cultura ganha um espaço no qual antes não tinha, a democratização.

Rio Grande parece seguir o exemplo que vem dando certo da vizinha ao lado, a valorização do patrimônio histórico e a exploração dos espaços públicos da cidade.  Neste ano, organizou a Festa do Mar no centro histórico, aberta ao público, com preços acessíveis, com o seu principal produto, a anchova sendo comprada de uma cooperativa de pescadores e sendo vendida a preço acessível.
Os resultados da Festa do Mar foram surpreendentes, a população não estava acostumada a curtir eventos públicos, a caminhar pela cidade na noite, a contemplar as convidativas fachadas dos prédios históricos iluminados. Os leões marinhos, ainda estão pelos espaços públicos, enfeitando e sendo atrações turísticas. 

O passe livre no domingo de festa também foi outro diferencial, pois não basta só criar uma festa popular ao ar livre, se tu não crias também os meios para as pessoas de baixa renda acessarem estes locais. Mais um ponto para a Prefeitura de Rio Grande.


Depois de anos, ofertando uma Festa do Mar seletiva, onde as ruas eram fechadas e até mesmo cobravam-se estacionamentos nestas, a lógica parece ter se invertido, e para o desgosto de muita gente, deu certo.

A praça Tamandaré, também tem recebido alguns eventos nos sábados a tarde, encontros de músicos riograndinos tem ocupado o espaço e dado um resultado bem bacana, ao exemplo do que já vem fazendo há muitos anos Serginho da Vassoura de Pelotas. Inclusive, ele e sua trupe estiveram aqui na Praça Tamandaré fazendo um som com seus instrumentos improvisados.

Atitudes como essas são dignas de aplausos. Vivendo em uma era onde a "camarotização" prevalece, onde os indivíduos gastam o que tem e o que não tem para serem Vips, onde os espaços são devidamente marcados e exclusivos, precisamos sim de uma retomada da coisa pública. Afinal de contas, o capitalismo transformou a arte em espetáculo pago, consequentemente caro e sendo assim, inacessível a uma grande parte da nossa sociedade, que por consequência, se tornou mais triste, mais chata, menos crítica e alienada aos meios de comunicação.

A arte é expressão divina, e a manifestação do gênio humano.  O inconsciente produz e o consciente lê os resultados, já diziam isso os filósofos alemães do século XIX, conhecidos no mundo por encabeçaram um movimento intelectual que tinha por finalidade revolucionar as estruturas do mundo moderno através de uma nova concepção de leitura da arte, o Romantismo alemão. 
O que chama atenção dentro de tudo isso, é justamente o fato de que o romantismo alemão ganha forças e formas justamente no momento em que a Alemanha passava por muitas dificuldades de cunho social. 


A expansão do Capital concentrado nas mãos de uma seleta burguesia, contribuiu para o empobrecimento de grande parte da população o qual passou a depender quase que exclusivamente da venda de sua mão de obra, em outras palavras, crescimento de um proletariado urbano vivendo em condições precárias.

A Alemanha da época, que ainda não era Alemanha e sim um conglomerado de 36 Estados encabeçados pela Prússia, sofria com as consequências das Revoluções Burguesas nos países vizinhos e lutava para encontrar um elemento o qual os dessem condições de mais tarde servir como instrumento de luta na construção de uma identidade nacional. Vivendo neste ínterim, os românticos encontram na produção estética dos artistas um elemento capaz de revolucionar.

Rio Grande ainda está muito aquém do esperado no campo cultural, principalmente no quesito espaços de arte, locais onde os artistas possam manifestar e expor as suas artes. Mas, uma série de sinais tem sido dado e também cabe aos artistas e a comunidade pressionar os setores públicos por mais visibilidade. 

Em épocas de crise financeiras a arte se apresenta como um elemento amenizador, um instrumento capaz de dotar o ser humano com aquilo que ele tem de mais importante que é o exercício de seu intelecto. Portanto, não vamos esperar a crise bater para fazer e viver a arte, mas já dizia Moisés Mendes que a arte é de esquerda, uma vez que ela tem que ser crítica e não pode ser acomodada, não existe genialidade criativa no acomodamento. Teatro Mágico em certa música, diz: A Felicidade bestializa, o sofrimento humaniza.

Ocupar a cidade, viver os seus espaços ainda continua sendo a melhor rede social!


Texto citado do jornalista Moisés Mendes:
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2015/08/moises-mendes-esgotou-se-o-repertorio-de-lobao-4818837.html

Sobre a virada cultural de Pelotas:
http://www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&id_noticia=MTA1OTA3&id_area=MA==




Nenhum comentário:

Postar um comentário