Metrópole: Constitui um tipo especial de cidade, que se distingue das menores não apenas por sua dimensão, mas por uma série de fatos, quer de natureza quantitativa, quer de natureza qualitativa. As atuais regiões metropolitanas tem como pontos comuns dois elementos essenciais: a) são formadas por mais de um município – o que lhe dá o nome – representando uma área bem maior que as demais; b) são objeto de programas especiais, levados por organismos regionais especialmente criados, com a utilização de normas e de recursos em boa parte federal. São, na verdade, regiões de planejamento, onde todavia, o que é feito não atende a problemática geral da área limitando-se a aspectos setoriais. (SANTOS, Milton, p. 75-76). A urbanização Brasileira 1994.
Autores: Felipe Nóbrega; Ticiano Pedroso
Quando da proposição de uma Região Metropolitana de Pelotas , Miriam Marroni não foi nada além de pelotense.
Tendo,
até então, a sua cidade como sede de um aglomerado que ainda inclui:
Arroio do Padre, Capão do Leão, Pelotas, Rio Grande, São José do Norte,
Canguçu, Cerrito, Monte Bonito, Pedro Osório, São Lourenço do Sul e
Turuçu. Não é nada exatamente novo, pois remete a uma iniciativa de
Bernardo de Souza, ex-prefeito de Pelotas já falecido, e também existem
ações nesse sentido por parte do deputado Catarina Paladini.
E o que isso revela? Ou essa iniciativa, que já sofreu modificações, revela?
A
completa incapacidade da cidade de Rio Grande ser protagonista na
região, pelo simples fato de ser uma cidade que não consegue “se vender”
como tal.
Um exemplo rápido: em Pelotas uma propaganda televisiva bate e rebate nas “maravilhas” da cidade, e a certa altura chega ao ponto de apresentar uma torre mequetrefe alocada em praça pública como uma réplica da Torre Eiffel.Outro: qualquer, mas qualquer mafuá mesmo tem ou o jogo americano com referências a cidade, ou quadros, fotografias, enfim, qualquer elemento que possa confirmar o quanto Pelotas é a Paris dos pampas.
E
Rio Grande, o que faz com o seu slogan de “Rio Grande, cidade do mar,
cidade histórica?” Nada! Vale lembrar que a cidade não possui nenhum
turismólogo no seu quadro do funcionalismo público, nunca houve concurso
para tal.
O
que temos hoje, em termos de recursos humanos que gerem a cidade na
questão sócio-turística, é um grupo de pessoas que até são bem
intencionadas naquilo que fazem, mas que não possuem a qualificação para
pensar além da criação de mais e mais museus, como se isso fosse uma
atitude de incremento turístico e valorização da cidade.
Nas redes sociais o assunto sobre a criação da região metropolitana de Pelotas aguçou o "ódio" dos riograndinos pelos “pelotenses metidos”. Alguns esbravejavam dizendo que “esta mulher só pode estar louca” , “cadê as nossas autoridades pra nos defenderem dessa crueldade?”
Na
realidade essa prática pode ser facilmente entendida. Historicamente
existe uma grande diferença entre as duas cidades, o qual remete para os
seus respectivos passados gloriosos. Rio Grande sempre foi e será uma
cidade industrial, isso explica muita coisa, quase tudo por aqui pode
ser entendido por esta lógica (espero um dia poder provar). Por outro lado, Pelotas sempre foi um expoente cultural, "moderna", onde os valores locais são colocados em primeiro plano.
Rio
Grande como cidade portuária, industrial, se contenta em ser um local
por onde as pessoas passam, ganham dinheiro e vão embora. Não propicia a
vontade de ficar, de permanecer nesta terra. Existem muitas poucas
opções de escolha e a cidade se alimenta desta restrição.
Por
outro lado, Pelotas estagnada economicamente há décadas, sobrevive em
cima de sua condição de centralidade. Pois ela abrange uma série de
pequenas cidades as quais justamente se abastecem no comércio local de
Pelotas. A isso, também se agrega o questão educacional da cidade, que é
um polo da região extremo sul, com suas universidades e campus do
Instituto Federal.
Embora
a cidade de Rio Grande detenha hoje o 4º maior PIB do Estado, esse
valor não representa nenhum tipo de melhorias na qualidade de vida do
cidadão papareia. Pois a cidade continua sobrevivendo com o mesmo leque
de opções (salvo algumas exceções) a qual existia antes de
2008. Basta ver a quantidade de pessoas que se deslocam até a cidade
vizinha em busca de diversão, lazer, opções culturais e compras no
comércio.
Trocando
em miúdos, a contradição da coisa toda é: Rio Grande nunca se pensou
como protagonista da região, e Pelotas acredita que ainda ocupa esse
lugar.
Pelotas
já não é protagonista nem de novela mexicana do SBT desde 2008, quando
da instalação de um Polo Naval em Rio Grande. Ali ficou estabelecido um
futuro irreversível: se tornar uma cidade-dormitório. E com essa
condição, onde ia parar o status da cidade, ou melhor, o ethos que ela carrega em cada uma de suas esquinas, e por tabela, está incorporado em cada um de seus nativos ?
Ora,
em ações e projetos como esse, em que, no detalhe da vírgula, na forma
inconsciente de organizar o mundo, sobressaem e deixam ver como Pelotas
ainda pensa a si mesma.
Não
que seja um projeto ruim em si, a justificativa é razoável, e faz
sentido dentro do contexto de distribuição de verba para obras do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), agora, o que não faz
sentido, é a forma completamente isolada com que Miriam tratou do
assunto, pegando de surpresa a própria região e os seus colegas
parlamentares dessas bandas.
Miriam
já alterou o projeto, retirando o nome de Pelotas do título, e assim
Rio Grande pode dormir tranquila. Porém, isso não esconde o fato de que,
até hoje, pouco ou nada se fez nada no sentido de trazer para Rio
Grande esse protagonismo turístico-social, bem como o próprio
protagonismo econômico. Simples assim.
Sendo
assim, o que resta, ao que parece, é viver de choro. Então, vamos todos
guardar o nosso balde no pátio e esperar uma próxima oportunidade para
chorar e reclamar de Pelotas, ou de qualquer outra cidade, pois o
importante é manter a síndrome de primo-pobre, que não só incorporamos
como mostra-se um lugar cômodo de viver.
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