quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Rio Grande, a pequena cidade da região metropolitana

Metrópole: Constitui um tipo especial de cidade, que se distingue das menores não apenas por sua dimensão, mas por uma série de fatos, quer de natureza quantitativa, quer de natureza qualitativa.  As atuais regiões metropolitanas tem como pontos comuns dois elementos essenciais: a) são formadas por mais de um município – o que lhe dá o nome – representando uma área bem maior que as demais; b) são objeto de programas especiais, levados por organismos regionais especialmente criados, com a utilização de normas e de recursos em boa parte federal. São, na verdade, regiões de planejamento, onde todavia, o que é feito não atende a problemática geral da área limitando-se a aspectos setoriais. (SANTOS, Milton, p. 75-76). A urbanização Brasileira 1994.

Autores: Felipe Nóbrega; Ticiano Pedroso
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Foto: divulgação
Quando da proposição de uma Região Metropolitana de Pelotas , Miriam Marroni não foi nada além de pelotense.

Tendo, até então, a sua cidade como sede de um aglomerado que ainda inclui: Arroio do Padre, Capão do Leão, Pelotas, Rio Grande, São José do Norte, Canguçu, Cerrito, Monte Bonito, Pedro Osório, São Lourenço do Sul e Turuçu. Não é nada exatamente novo, pois remete a uma iniciativa de Bernardo de Souza, ex-prefeito de Pelotas já falecido, e também existem ações nesse sentido por parte do deputado Catarina Paladini.

E repitimos, todos, apenas, foram pelotenses. E só. Sem escândalos, sem recalques, apenas publicizaram um ethos todo próprio, todo singular dessa cidade com ares de Paris, mas com um bairro chamado Sanga Funda e código de área 53.

E o que isso revela? Ou essa iniciativa, que já sofreu modificações, revela?
A completa incapacidade da cidade de Rio Grande ser protagonista na região, pelo simples fato de ser uma cidade que não consegue “se vender” como tal.
Um exemplo rápido: em Pelotas uma propaganda televisiva bate e rebate nas “maravilhas” da cidade, e a certa altura chega ao ponto de apresentar uma torre mequetrefe alocada em praça pública como uma réplica da Torre Eiffel.
Outro: qualquer, mas qualquer mafuá mesmo tem ou o jogo americano com referências a cidade, ou quadros, fotografias, enfim, qualquer elemento que possa confirmar o quanto Pelotas é a Paris dos pampas.

Ponte/limite entre RG e Pelotas/Foto: dos autores
Ponte/limite entre RG e Pelotas/Foto: dos autores
E Rio Grande, o que faz com o seu slogan de “Rio Grande, cidade do mar, cidade histórica?” Nada! Vale lembrar que a cidade não possui nenhum turismólogo no seu quadro do funcionalismo público, nunca houve concurso para tal.

O que temos hoje, em termos de recursos humanos que gerem a cidade na questão sócio-turística, é um grupo de pessoas que até são bem intencionadas naquilo que fazem, mas que não possuem a qualificação para pensar além da criação de mais e mais museus, como se isso fosse uma atitude de incremento turístico e valorização da cidade.

Nas redes sociais o assunto sobre a criação da região metropolitana de Pelotas aguçou o "ódio" dos riograndinos pelos “pelotenses metidos”. Alguns esbravejavam dizendo que “esta mulher só pode estar louca” , “cadê as nossas autoridades pra nos defenderem dessa crueldade?”

Na realidade essa prática pode ser facilmente entendida. Historicamente existe uma grande diferença entre as duas cidades, o qual remete para os seus respectivos passados gloriosos. Rio Grande sempre foi e será uma cidade industrial, isso explica muita coisa, quase tudo por aqui pode ser entendido por esta lógica (espero um dia poder provar). Por outro lado, Pelotas sempre foi um expoente cultural, "moderna", onde os valores locais são colocados em primeiro plano.

Rio Grande como cidade portuária, industrial, se contenta em ser um local por onde as pessoas passam, ganham dinheiro e vão embora. Não propicia a vontade de ficar, de permanecer nesta terra. Existem muitas poucas opções de escolha e a cidade se alimenta desta restrição.

Por outro lado, Pelotas estagnada economicamente há décadas, sobrevive em cima de sua condição de centralidade. Pois ela abrange uma série de pequenas cidades as quais justamente se abastecem no comércio local de Pelotas. A isso, também se agrega o questão educacional da cidade, que é um polo da região extremo sul, com suas universidades e campus do Instituto Federal.

Embora a cidade de Rio Grande detenha hoje o 4º maior PIB do Estado, esse valor não representa nenhum tipo de melhorias na qualidade de vida do cidadão papareia. Pois a cidade continua sobrevivendo com o mesmo leque de opções (salvo algumas exceções) a qual existia antes de 2008. Basta ver a quantidade de pessoas que se deslocam até a cidade vizinha em busca de diversão, lazer, opções culturais e compras no comércio.

Trocando em miúdos, a contradição da coisa toda é: Rio Grande nunca se pensou como protagonista da região, e Pelotas acredita que ainda ocupa esse lugar.

Pelotas já não é protagonista nem de novela mexicana do SBT desde 2008, quando da instalação de um Polo Naval em Rio Grande. Ali ficou estabelecido um futuro irreversível: se tornar uma cidade-dormitório. E com essa condição, onde ia parar o status da cidade, ou melhor, o ethos que ela carrega em cada uma de suas esquinas, e por tabela, está incorporado em cada um de seus nativos ?

Ora, em ações e projetos como esse, em que, no detalhe da vírgula, na forma inconsciente de organizar o mundo, sobressaem e deixam ver como Pelotas ainda pensa a si mesma.

Não que seja um projeto ruim em si, a justificativa é razoável, e faz sentido dentro do contexto de distribuição de verba para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), agora, o que não faz sentido, é a forma completamente isolada com que Miriam tratou do assunto, pegando de surpresa a própria região e os seus colegas parlamentares dessas bandas.

Miriam já alterou o projeto, retirando o nome de Pelotas do título, e assim Rio Grande pode dormir tranquila. Porém, isso não esconde o fato de que, até hoje, pouco ou nada se fez nada no sentido de trazer para Rio Grande esse protagonismo turístico-social, bem como o próprio protagonismo econômico. Simples assim.

Sendo assim, o que resta, ao que parece, é viver de choro. Então, vamos todos guardar o nosso balde no pátio e esperar uma próxima oportunidade para chorar e reclamar de Pelotas, ou de qualquer outra cidade, pois o importante é manter a síndrome de primo-pobre, que não só incorporamos como mostra-se um lugar cômodo de viver.

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Foto divulgação Mirian Marroni


Texto publicado no site tucotuco em: 14/10/2013

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