quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Eu quero morar no Facebook

Redes-Socias-no-Brasil-Marketing-Social-o-que-é-são-rede-sociais-Brasil-Internet-Rede-Marketing-Digital-01
 Quando escrevi o primeiro texto para o Tuco Tuco comentando sobre a internet ser um veículo facilitador de acesso às informações, as quais nós escolhemos ver, ler e repassar, referia-me exatamente ao ponto que eu considero mais positivo dentro deste espaço virtual: a democratização da informação.

No entanto, nem tudo são flores. Existe outro ponto de vista (o lado negativo) que eu não me referi no primeiro texto e deixo bem claro que não estou falando de deep web, isso é matéria para outro escrito. Quando me refiro ao lado negativo, quero expressar justamente as coisas desnecessárias que acabamos vendo, perdendo tempo (pensando, escrevendo) e às vezes como eu, até me indignando. Este texto é um exemplo mais claro disso!

Não que eu me considere o baluarte da moral e da civilidade, mas digo isso exatamente pelo fato de que coisas ruins me fazem pensar e, por vezes demandam muito mais energia do que as coisas boas. Já dizia alguém aí que ‘as grandes ideias surgem a partir das crises, dos conflitos e dos momentos de reflexão’.

A internet, mais especificamente, as redes sociais, e ainda pra ser mais direto, o Facebook,  tornou-se uma grande janela aberta para o interior da vida subjetiva de cada indivíduo. É possível conhecer a personalidade de um ser humano pela sua página pessoal na grande comunidade?

Acredito que não por completo, mas é possível ,sim, traçar um perfil de comportamento e um padrão de conduta via feed de notícias e perfil. Cada post, curtida e compartilhamento, revela um pouco do que gostamos, expressa também as nossas identificações e o que almejamos como padrão de sociedade ideal.

O resultado disso tudo é que hoje o Facebook se transformou numa perigosa armadilha para qualquer ser humano. Dentre os milhares de analfabetos funcionais que convivem e compartilham ,diariamente, o mesmo espaço nas redes sociais, existe o sujeito esperto, que age justamente em cima da falta de conhecimento do grande público.

1 

Este sujeito faz desse nicho o seu hábitat de trabalho, respaldado “cientificamente” no discurso de Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e da nova sensação reaça, Rachel Sheherazade. Ele passa boa parte do seu dia se dedicando a elaborar imagens com frases e ,posteriormente, sair espalhando a sua produção na timeline e nos grupos fechados.

Quando me refiro à janela aberta para o interior da vida subjetiva, penso justamente nos significados que cada post pode ter. Alguns dirão que não tem nada a ver, que pode ser uma coisa de momento, sem pensar. Sinceramente, eu não creio. Acredito no fato de que cada postagem vem carregada de grande dose ideológica, sentimental e de personalidade.

É justamente aí que mora o perigo para a maioria do público que habita o universo das redes sociais. O principal problema, contraditoriamente, é a falta de informação, pois carecem de leitura, informam-se por títulos de notícias, comentários, e tem o Facebook como principal fonte. Este sujeito é a isca preferida dos abutres, alvo fácil para os mais ávidos sentimentos conservadores e reacionários travestidos no discurso da neutralidade apartidária que se apresenta como solução rápida e viável para varrer de vez a corrupção do Brasil.

Por outro lado, as redes sociais transformaram-se no local perfeito para morar. Trata-se de um mundo extremante justo e repleto de muitos amigos, pessoas bonitas de bem com a vida, inteligentes, politizadas, com uma visão crítica de sociedade. Se existe algum problema, este pode ser facilmente resolvido num simples comentário. Neste fantástico mundo, o gaúcho é a raça ideal, afinal de contas, o “Deus Maior”, Arnaldo Jabor nos definiu como o povo preferido. Luiz Fernando Veríssimo, outro ser divino deste mundo, optou por não condensar todos os seus escritos num livro só, ao contrário de uma tal de Bíblia, preferiu escrever milhares de textos e publica-los separadamente no decorrer de sua vida. Tati Bernardi e Marta Medeiros também foram canonizadas devido a sua grande contribuição bibliográfica para o entendimento do complexo universo feminino.

A popularização da internet no Brasil deveria vir acompanhada de uma evolução no setor educacional. Juntas (internet + educação) tornam-se uma ferramenta poderosa na formação do cidadão. No entanto, como já é de costume no país, a teoria da modernidade inconclusa mais uma vez predominou.

De acordo com o sociólogo José de Souza Martins, “o caráter inacabado da modernidade se expressa nos ritmos desiguais do desenvolvimento econômico e social, no avanço tecnológico, na acumulação de capital, na miséria e na injustiça. A modernidade anuncia o possível e não o realiza (Martins, 2010). Martins se refere às possibilidades que a modernidade abriu para a transformação da humanidade, mas que não é capaz de realizar e, pelo contrário, bloqueia o possível.

No caso aqui debatido, a inovação se apresenta através do computador, internet e inúmeros programas, mas o modus operandi permanece velho e retrógado, com um povo que não sabe ou tem preguiça de tirar proveito da informação, que opta pelo mais fácil, por ler o resumo em vez do livro.

 1781284_583253845099161_1090361083_n



Texto publicado no site tucotuco em: 02/02/2014



Nenhum comentário:

Postar um comentário