Quando escrevi o primeiro texto para o Tuco Tuco comentando sobre a internet ser um veículo facilitador de acesso às informações, as quais nós
escolhemos ver, ler e repassar, referia-me exatamente ao ponto que eu
considero mais positivo dentro deste espaço virtual: a democratização da
informação.
No entanto, nem tudo são flores. Existe outro ponto de vista (o lado negativo) que eu não me referi no primeiro texto e deixo bem claro que não estou falando de deep web, isso
é matéria para outro escrito. Quando me refiro ao lado negativo, quero
expressar justamente as coisas desnecessárias que acabamos vendo,
perdendo tempo (pensando, escrevendo) e às vezes como eu, até me indignando. Este texto é um exemplo mais claro disso!
Não
que eu me considere o baluarte da moral e da civilidade, mas digo isso
exatamente pelo fato de que coisas ruins me fazem pensar e, por vezes
demandam muito mais energia do que as coisas boas. Já dizia alguém aí
que ‘as grandes ideias surgem a partir das crises, dos conflitos e dos
momentos de reflexão’.
A
internet, mais especificamente, as redes sociais, e ainda pra ser mais
direto, o Facebook, tornou-se uma grande janela aberta para o interior
da vida subjetiva de cada indivíduo. É possível conhecer a personalidade de um ser humano pela sua página pessoal na grande comunidade?
Acredito que não por completo, mas é possível ,sim, traçar um perfil de comportamento e um padrão de conduta via feed de notícias e perfil. Cada post, curtida e compartilhamento, revela um pouco do que gostamos, expressa também as nossas identificações e o que almejamos como padrão de sociedade ideal.
O
resultado disso tudo é que hoje o Facebook se transformou numa perigosa
armadilha para qualquer ser humano. Dentre os milhares de analfabetos
funcionais que convivem e compartilham ,diariamente, o mesmo espaço nas
redes sociais, existe o sujeito esperto, que age justamente em cima da
falta de conhecimento do grande público.
Este
sujeito faz desse nicho o seu hábitat de trabalho, respaldado
“cientificamente” no discurso de Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e
da nova sensação reaça, Rachel Sheherazade. Ele passa boa parte do seu
dia se dedicando a elaborar imagens com frases e ,posteriormente, sair
espalhando a sua produção na timeline e nos grupos fechados.
Quando me refiro à janela aberta para o interior da vida subjetiva, penso justamente nos significados que cada post
pode ter. Alguns dirão que não tem nada a ver, que pode ser uma coisa
de momento, sem pensar. Sinceramente, eu não creio. Acredito no fato de
que cada postagem vem carregada de grande dose ideológica, sentimental e
de personalidade.
É
justamente aí que mora o perigo para a maioria do público que habita o
universo das redes sociais. O principal problema, contraditoriamente, é a
falta de informação, pois carecem de leitura, informam-se por títulos
de notícias, comentários, e tem o Facebook como principal fonte. Este
sujeito é a isca preferida dos abutres, alvo fácil para os mais ávidos
sentimentos conservadores e reacionários travestidos no discurso da
neutralidade apartidária que se apresenta como solução rápida e viável
para varrer de vez a corrupção do Brasil.
Por
outro lado, as redes sociais transformaram-se no local perfeito para
morar. Trata-se de um mundo extremante justo e repleto de muitos amigos,
pessoas bonitas de bem com a vida, inteligentes, politizadas, com uma
visão crítica de sociedade. Se existe algum problema, este pode ser
facilmente resolvido num simples comentário. Neste fantástico mundo, o
gaúcho é a raça ideal, afinal de contas, o “Deus Maior”, Arnaldo Jabor
nos definiu como o povo preferido. Luiz Fernando Veríssimo, outro ser
divino deste mundo, optou por não condensar todos os seus escritos num
livro só, ao contrário de uma tal de Bíblia, preferiu escrever milhares
de textos e publica-los separadamente no decorrer de sua vida. Tati
Bernardi e Marta Medeiros também foram canonizadas devido a sua grande
contribuição bibliográfica para o entendimento do complexo universo
feminino.
A
popularização da internet no Brasil deveria vir acompanhada de uma
evolução no setor educacional. Juntas (internet + educação) tornam-se
uma ferramenta poderosa na formação do cidadão. No entanto, como já é de
costume no país, a teoria da modernidade inconclusa mais uma vez predominou.
De acordo com o sociólogo José de Souza Martins,
“o caráter inacabado da modernidade se expressa nos ritmos desiguais do
desenvolvimento econômico e social, no avanço tecnológico, na
acumulação de capital, na miséria e na injustiça. A modernidade anuncia o
possível e não o realiza (Martins, 2010). Martins se refere às
possibilidades que a modernidade abriu para a transformação da
humanidade, mas que não é capaz de realizar e, pelo contrário, bloqueia o
possível.
Texto publicado no site tucotuco em: 02/02/2014
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