O que devemos esperar de um representante do povo na casa do povo?
Ora,
justamente que ele cumpra o seu verdadeiro papel, que é legislar,
fiscalizar o andamento das políticas em âmbito local, além de propor
medidas, fundamentadas em estudos, que venham a contribuir para a
melhoria da vida urbana e social de uma cidade.
Isso
não me parece ser um tema tão complexo, de difícil entendimento. Na
realidade, deveria ser de conhecimento geral. Qualquer indivíduo deveria
ter a obrigação de saber quais são as funções de cada político, afinal
de contas, estamos envolvidos diretamente com eles a cada dois anos.
Isso
é algo que se aprende na educação básica, quando a tia nos ensina como
funciona a casa, a escola, a cidade e o Estado. Mas enfim, talvez muitos
alunos não estivessem dispostos a aprender isso, pois não iria fazer
muita diferença nas suas vidas. As continhas de somar e multiplicar eram
mais interessantes quando ensinadas com notinhas do banco imobiliário.
Ou talvez, por alguma ocasião torta
da vida, o aluno tenha faltado a essa aula e, em consequência disso,
não tenha realizado o tema, que era justamente a leitura do texto e a
resposta de algumas perguntas sobre os direitos e deveres dos cidadãos.
Os pais desse menino, que haviam trabalhado o dia inteiro, estavam
cansados e não deram muita importância para fato do menino não ter
prestado atenção e nem ter copiado a matéria na aula. Eles até deram
razão para o filho, pois também achavam que a professora estava fazendo
algum tipo de represália contra a criança. Por esse motivo o apoiaram em
não querer ir à aula, afinal de contas, ele estava quietinho vendo
desenhos em casa e o tirar do conforto do lar para assistir duas aulas
de história seria uma crueldade tremenda.
Esse
menino atravessou toda a vida escolar sem saber direito qual era a
verdadeira função dos políticos que governavam a sua pequena cidade. Um
dia ele completou 18 anos e foi obrigado a votar. Como não gostava de
política, pois cresceu ouvindo seu avô - um homem do campo que veio para
cidade trabalhar - dizer que “política, futebol e religião não se
discute”, optou por seguir os conselhos do amigo, que iria votar no
vereador que lhe conseguiu um emprego e um terno de camisas de futebol
para o time.
O
menino que não gostava de ir à escola concluiu os estudos do Ensino
Médio num colégio particular da cidade, cursando EJA no turno da noite.
Ele precisava do diploma para conseguir um emprego e, como existia a
possibilidade de terminar o segundo grau em apenas 6 meses, não hesitou
e foi logo se matricular. Atualmente, continua no mesmo emprego,
trabalhando em uma indústria na cidade de Rio Grande.
Em
relação à política, ele se atreve a dar alguns palpites, embasado nos
comentários que assiste no Jornal Nacional e no programa do Datena. Não
simpatiza com o governo, pois esse o extorque todos os meses com taxas e
impostos exorbitantes que não são revertidos em melhorias na saúde,
educação, segurança e infraestrutura urbana.
Acredita
que a política de cotas é uma forma de beneficiar o negro que,
historicamente, sempre teve as mesmas oportunidades e chances que o
branco. Em relação ao atual Governo Federal, ouviu comentar que estamos
diante de uma ditadura comunista, que tira dinheiro dos ricos para dar
para os pobres. E os pobres, ao invés de estarem trabalhando, ficam em
casa recebendo benefícios do Bolsa Família.
Vislumbra
algumas mudanças no futuro do país, quando as coisas realmente
funcionarem. Por isso, torce para que Joaquim Barbosa seja candidato à
presidência, pois ele é uma pessoa idônea, que nunca precisou de cotas
raciais e colocou na cadeia um bando de corruptos do PT. Diz que é
preciso haver justiça, redução da maioridade penal, pena de morte e o
cidadão deve ter o direito de se defender com as suas próprias mãos, já
que o Estado não faz isso.
Atualmente,
fez um perfil no facebook, onde passa boas horas do dia lendo as
postagens de um grupo de discussão e informação dos acontecimentos
locais.
Foi
por meio dessa página que ele tomou conhecimento do trabalho de um
vereador da cidade, que pela simplicidade e coragem de mostrar os
“verdadeiros” problemas, já ganhou o seu voto para a próxima eleição.
Afinal de contas, ele é do povo, é um homem simples, que não hesita em
“largar na mão” dentro de um hospital pra defender o colega de bancada
ou em mergulhar na valeta para mostrar os alagamentos nas vilas.
Pouco
importa se o vereador está cumprindo com o que manda a sua função,
afinal de contas, o rapaz da história nunca se interessou por esses
assuntos. Cresceu sem saber como funcionava o aparelho administrativo da
sua cidade e acredita que ações iguais a desse legislador são dignas de
aplausos, pois ajudarão na resolução dos problemas.
E até hoje aquele menino não conseguiu aprender para que serve um vereador...
Texto publicado no site tucotuco em: 26/03//2014
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