Ultimamente
tenho andado cansado, afastado das discussões e descrente no poder de
mudança da sociedade. Sei que desagrados fazem parte do cotidiano de
cada um nesse mundo cão. Minha profissão de educador não permite
entregar as esperanças antes dos 60, é preciso sempre acreditar numa
mudança futura, onde paradigmas sejam quebrados e, novas ideias, formas
de pensar e entender a sociedade permeiem o início de uma “nova era”.
Gostaria de acreditar nisso, talvez, ainda bem lá no fundo existe uma luz verde que pisca em momentos como esse e me diz: Não
desacredita, não perca a fé e lute pelas suas ideias, confie em você
próprio e não espere muito do mundo, pois ele é injusto com todos.
Mas
afinal de contas, o que isso tudo tem a ver? Por que estou fazendo todo
esse alarde num texto que deveria refletir sobre o ambiente escolar e
as redes sociais? Justamente porque esse cansaço está ligado ao que vivo
e vejo nestes locais. Vamos aos fatos!
As redes sociais me fascinam, sou um viciado, dependente cibernético
que condicionou boa parte do seu cotidiano para esse universo virtual.
Se hoje as redes me fascinam pela dinamicidade e facilidade de
comunicação, por outro lado, elas também são responsáveis por parte de
meu cansaço mental e descrença num futuro melhor, pois expõem o que há
de mais raso e mesquinho habitando nas entranhas da sociedade.
Uma
breve incursão por uma escola estadual de ensino médio da cidade me
serve como elemento de análise. O uso do uniforme não é uma exigência
legal, ficando por conta da instituição a obrigatoriedade ou não deste.
Antes que me critiquem pelo o meu posicionamento, gostaria de deixar
claro que sou contra qualquer tipo de atitude alienante, que
desconsidere a liberdade de escolha do indivíduo. Acontece, porém, que o
uniforme coloca todos os alunos em um mesmo nível visual, o da
vestimenta. A não utilização deste, torna o ambiente escolar mais
segregador e quando analisamos os adolescentes do ensino médio este fato
fica evidente.
Existe
uma tendência natural e compreensível dessa faixa etária em externar o
aspecto visual como forma de afirmação frente ao seu grupo e à
sociedade. Dentro disso, os alunos ostentam no ambiente escolar
determinadas marcas de roupas, calçados e acessórios que, por fim,
transformam-se em signos de identificação, diferenciação e exclusão.
A
descaracterização do aluno da escola pública estadual
,contraditoriamente, tem uma característica: o boné - a “bombeta” ou
“panelão” como são conhecidos - juntamente com os fones de ouvido
predominam no cenário. No decorrer dos anos esses acessórios se
transformaram “em uma parte do corpo dos jovens”. Solicitar para que o
tirem da cabeça é uma afronta despótica, atitude inadmissível dentro de
um ambiente onde o professor perdeu autoridade devido às teorias
pedagógicas que humanizaram demais o ensino e, por consequência,
resultaram na perda de autoridade e de autonomia da escola.
Dentro
da sala de aula poucos sabem o conteúdo que está sendo trabalhado,
emana de seus olhares o desprazer de estar ali. Existe dificuldade, por
parte dos alunos, em acatar ordens dos professores. Qualquer pedido,
cobrança é facilmente entendido por ofensa, levado para o lado
sentimental e o aluno se entende como vítima.
Os
pais delegam à escola o papel da educação. O professor cobra postura do
aluno. O aluno se sente injustiçado, perseguido, por conseguinte,
reclama do professor e o professor culpa o Estado pela situação. O
Estado não paga o piso, bate no professor, investe pouco em educação e
exige muito de seu trabalho. Uma bola de neve que só serve para expor a
degradação do atual ambiente escolar.
O
resultado desse cenário pode ser verificado através de uma pequena
amostra grátis do novo termômetro da sociedade, as redes sociais. Uma
grande massa desconhecedora dos assuntos, compartilha, curte e expõe
suas opiniões embasadas em spam’s, fakes, hoaxes, virais da internet, elaborados, na maior parte das vezes, sob forte teor ideológico extremista.
Diariamente, assisto na time line e nos grupos fechados o show
dos moralistas, dos antipetistas, dos antitucanos, da extrema direita,
dos anarquistas, dos desinformados e daqueles que viram nas redes
sociais a possibilidade de externar e resolver todos os problemas do
universo.
Yves
de La Taille, psico educador da USP, destaca que um dos principais
problemas do caráter educacional da sociedade se dá justamente com
relação à informação. Existe a dificuldade de criar nexos, raciocínios
entre os fatos, para transformar informação em conhecimento.
O “show das times lines”
pode ser visto como o produto resultante de uma sociedade embebida na
informação rasa, fragmentada, sensacionalista, que se limita a entender
um texto pelo o seu título, que é incapaz de associar e interpretar
aquela leitura como parte de um contexto histórico e social.
Portanto,
nesse dia do professor, desejo que vocês criem muitos nexos,
desacomodem-se, não desanimem frente ao cenário degradante da educação
pública, lutem por seus valores e principalmente, resgatem o espírito da
luta de classe histórica do magistério.
Para
quem desejar saber mais sobre o tema autoridade e autonomia na escola,
uma indicação de leitura: Yves de La Taille. Autoridade na escola. In Autoridade e autonomia na escola. Julio Groppa Aquino (org).
Texto publicado no site tucotuco em: 15//10/2014
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