quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Escolas fakes, alunos spam’s e os cavalos de tróia nas redes sociais

 quadronegro
Ultimamente tenho andado cansado, afastado das discussões e descrente no poder de mudança da sociedade. Sei que desagrados fazem parte do cotidiano de cada um nesse mundo cão. Minha profissão de educador não permite entregar as esperanças antes dos 60, é preciso sempre acreditar numa mudança futura, onde paradigmas sejam quebrados e, novas ideias, formas de pensar e entender a sociedade permeiem o início de uma “nova era”.

Gostaria de acreditar nisso, talvez, ainda bem lá no fundo existe uma luz verde que pisca em momentos como esse e me diz: Não desacredita, não perca a fé e lute pelas suas ideias, confie em você próprio e não espere muito do mundo, pois ele é injusto com todos. 

Mas afinal de contas, o que isso tudo tem a ver? Por que estou fazendo todo esse alarde num texto que deveria refletir sobre o ambiente escolar e as redes sociais? Justamente porque esse cansaço está ligado ao que vivo e vejo nestes locais. Vamos aos fatos!

As redes sociais me fascinam, sou um viciado, dependente cibernético que condicionou boa parte do seu cotidiano para esse universo virtual. Se hoje as redes me fascinam pela dinamicidade e facilidade de comunicação, por outro lado, elas também são responsáveis por parte de meu cansaço mental e descrença num futuro melhor, pois expõem o que há de mais raso e mesquinho habitando nas entranhas da sociedade.

Uma breve incursão por uma escola estadual de ensino médio da cidade me serve como elemento de análise. O uso do uniforme não é uma exigência legal, ficando por conta da instituição a obrigatoriedade ou não deste. Antes que me critiquem pelo o meu posicionamento, gostaria de deixar claro que sou contra qualquer tipo de atitude alienante, que desconsidere a liberdade de escolha do indivíduo. Acontece, porém, que o uniforme coloca todos os alunos em um mesmo nível visual, o da vestimenta. A não utilização deste, torna o ambiente escolar mais segregador e quando analisamos os adolescentes do ensino médio este fato fica evidente.

Existe uma tendência natural e compreensível dessa faixa etária em externar o aspecto visual como forma de afirmação frente ao seu grupo e à sociedade. Dentro disso, os alunos ostentam no ambiente escolar determinadas marcas de roupas, calçados e acessórios que, por fim,  transformam-se em signos de identificação, diferenciação e exclusão.

A descaracterização do aluno da escola pública estadual ,contraditoriamente, tem uma característica: o boné - a “bombeta” ou “panelão” como são conhecidos - juntamente com os fones de ouvido predominam no cenário. No decorrer dos anos esses acessórios se transformaram “em uma parte do corpo dos jovens”. Solicitar para que o tirem da cabeça é uma afronta despótica, atitude inadmissível dentro de um ambiente onde o professor perdeu autoridade devido às teorias pedagógicas que humanizaram demais o ensino e, por consequência, resultaram na perda de autoridade e de autonomia da escola.

Dentro da sala de aula poucos sabem o conteúdo que está sendo trabalhado, emana de seus olhares o desprazer de estar ali. Existe dificuldade, por parte dos alunos, em acatar ordens dos professores. Qualquer pedido, cobrança é facilmente entendido por ofensa, levado para o lado sentimental e o aluno se entende como vítima.

Os pais delegam à escola o papel da educação. O professor cobra postura do aluno. O aluno se sente injustiçado, perseguido, por conseguinte, reclama do professor e o professor culpa o Estado pela situação. O Estado não paga o piso, bate no professor, investe pouco em educação e exige muito de seu trabalho. Uma bola de neve que  só serve para expor a degradação do atual ambiente escolar.

O resultado desse cenário pode ser verificado através de uma pequena amostra grátis do novo termômetro da sociedade, as redes sociais. Uma grande massa desconhecedora dos assuntos, compartilha, curte e expõe suas opiniões embasadas em spam’s, fakes, hoaxes, virais da internet, elaborados, na maior parte das vezes, sob forte teor ideológico extremista.

Diariamente, assisto na time line e nos grupos fechados o show dos moralistas, dos antipetistas, dos antitucanos, da extrema direita, dos anarquistas, dos desinformados e daqueles que viram nas redes sociais a possibilidade de  externar e resolver todos os problemas do universo.

Yves de La Taille, psico educador da USP, destaca que um dos principais problemas do caráter educacional da sociedade se dá justamente com relação à informação. Existe a dificuldade de criar nexos, raciocínios entre os fatos, para transformar  informação em conhecimento.

O “show das times lines” pode ser visto como o produto resultante de uma sociedade embebida na informação rasa, fragmentada, sensacionalista, que se limita a entender um texto pelo o seu título,  que é incapaz de associar e interpretar aquela leitura como parte de um contexto histórico e social.
Portanto, nesse dia do professor, desejo que vocês criem muitos nexos, desacomodem-se, não desanimem frente ao cenário degradante da educação pública, lutem por seus valores e principalmente, resgatem o espírito da luta de classe histórica do magistério.

Para quem desejar saber mais sobre o tema autoridade e autonomia na escola, uma indicação de leitura: Yves de La Taille. Autoridade na escola. In Autoridade e autonomia na escola. Julio Groppa Aquino (org).

Texto publicado no site tucotuco em: 15//10/2014

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